A presença de sangue nas fezes (hematoquezia) é um sinal clínico que sugere presença de alguma anormalidade no aparelho gastrintestinal ou na coagulação do sangue. Existem inúmeras doenças capazes de provocar algum sangramento intestinal. A mucosa de revestimento interno do nosso trato digestivo é rica em vascularização, devido a sua capacidade absortiva de nutrientes. Inflamações, surgimento de lesões vascularizadas, trauma mecânico por fezes endurecidas ou objetos podem ocasionar rompimento desses vasos culminando em sangramento. Situações em que a capacidade do nosso sistema circulatório em estancar sangramento, chamada de coagulação, está diminuída, podem precipitar sangramentos com maior facilidade.
O sangramento gastrintestinal pode ocorrer de forma aguda, em poucas horas ou dias, ou crônica ao longo de meses a anos. Sangramentos agudos, quando volumosos, constituem uma ameaça à vida, uma emergência, que devem ser tratados no setor de urgência e emergência dos hospitais. A rápida reanimação com soluções venosas e sangue, além de medidas para conter a hemorragia, são essenciais para preservar a vida.
Sangramentos menos intensos ou crônicos, merecem investigação com o especialista, principalmente para detecção de câncer colorretal, que é uma doença prevalente em nosso meio. Alguns especialistas estão envolvidos no acompanhamento de pacientes com sangramentos gastrintestinais: o gastroenterologista, o cirurgião geral e do aparelho digestivo e o coloproctologista.
A avaliação médica é realizada através de coleta de informações sobre a história do paciente, seus fatores de risco, exame proctológico e exames complementares.
De uma forma geral, o aspecto do sangramento pode sugerir o local do sangramento. Presença de sangue ao limpar-se com papel higiênico, ou então sangue pingando no vaso sanitário após a evacuação, sugerem sangramentos provenientes do ânus. Quando o sangue é vermelho rutilante e apresenta-se misturado às fezes, ou presente somente no ato de evacuar, é indicativo de sangramento ao nível do reto e intestino grosso. O sangue proveniente do cólon esquerdo tende a ser vermelho brilhante, enquanto o sangramento do lado direito do cólon geralmente aparece escuro ou marrom e pode ser misturado às fezes. Raramente, o sangramento do lado direito do cólon pode apresentar-se com melena (fezes negras e pegajosas).
Alguns fatores de risco são relevantes, como: história familiar de câncer e síndromes polipoides, episódios prévios de sangramento gastrointestinal, uso de medicações cronicamente (antinflamatórios, salicilatos, anticoagulantes), coagulopatias, radioterapia pélvica – proctite actínica, colonoscopia recente, dieta podre em fibras – constipação.
Abaixo, apresentamos um sumário das principais causas de sangramento digestivo baixo:
1. Anatômicas: doença diverticular (responsável por 30-50% das hemorragias digestivas baixas em adultos) e doenças anorretais (doença hemorroidária e fissura)
2. Vasculares: isquemia, angiodisplasias, telangectasias.
3. Neoplásicas: carcinoma e pólipos.
4. Inflamatórias: Doenças Inflamatórias Intestinais (Moléstia de Crohn e Retocolite Ulcerativa), infecções, retite actínica.
5. Iatrogênicas: pós-polipectomia e pós-biópsia
É importante afastar hemorragia do trato digestivo superior, que correspondem de 10 a 15% das hematoquezias.
Existem situações de sangramento invisível, imperceptível. Ocorre de forma crônica, ao longo de meses, e é detectado em investigação de quadro de anemia inexplicável ou em exame de rastreamento para câncer colorretal, através de “pesquisa de sangue oculto nas fezes”.
No rol de exames complementares que serão úteis temos a anuscopia, a retossigmoidoscopia, a colonoscopia e a endoscopia digestiva alta.
Através destes exames é possível determinar a presença de tumores e de outras lesões, realizar biópsias para o diagnóstico histopatológico, estancar sangramentos ativos.